quinta-feira, 12 de setembro de 2013

LUZ ÀS POLÊMICAS DA PASSARELA...

Estilista Alexandre Herchcovitch (foto da coleção verão 2014) foi um dos beneficiados pela Lei Rouanet. Foto: Yasuyoshi CHIBA / AFP

Com a recente aprovação pelo MinC de projetos na área de moda, através da Lei Rouanet, envolvendo nomes de estilistas como Alexandre Herchcovitch (foto da coleção verão 2014), Pedro Lourenço e Ronaldo Fraga, além de cifras que chegam a quase R$ 3 milhões, criou-se uma polêmica interessante, embora às vezes previsível, entre vários setores da inteligência brasileira, e nem poderia ser diferente, afinal se trata de dinheiro. De resto, polêmica quase sempre é bom. Vamos por partes.

De um lado, tanto os representantes do MinC quanto os profissionais da moda argumentam que "moda é cultura", no que estão certos, e defendem a inclusão da moda na Lei Rouanet como "quebra de paradigma". Por outro lado, alguns argumentos de Marta Suplicy, a ministra, me parecem especialmente problemáticos, principalmente a afirmação de que a moda "tem um papel estratégico na internacionalização da cultura brasileira".

Eu não chegaria ao ponto de comparar tal afirmação com a estratégia das ditaduras militares, como faz Maria Rita Kehl em sua carta à ministra, mas é no mínimo um tratamento da cultura (e da própria moda, portanto) como ornamento, perfume, além de provincianismo. O argumento depõe contra a moda, fortalecendo as críticas mais óbvias que se fazem a seu respeito. Que o desfile de Pedro Lourenço tematize o universo de Carmen Miranda, a artista responsável por reafirmar os estereótipos nacionais em Hollywood durante o Estado Novo, é só o sintoma oportunista disso.

De outro, um intelectual como Vladimir Safatle, professor de filosofia da USP e colunista da Folha de São Paulo, talvez o principal crítico da "quebra de paradigma" proposta pelo MinC, fundamenta seus dois textos sobre o assunto a partir de duas definições, ambas limitadas: 1) "moda é desenhar vestidos", citação de uma ironia do estilista da Chanel, Karl Lagerfeld, e 2) "um quadro não é uma mercadoria", concepção fundada em sua orientação adorniana.

Ora, se estilistas fossem apenas, como quer Safatle, "comerciantes que organizam sua produção a partir das demandas de mercado", então Hussein Chalayan não teria enterrado um vestido antes do desfile e muito menos Jum Nakao teria feito roupas de papel, sob pena de se desfazerem enquanto seus clientes esperam abrir a sinaleira. Quanto a um "quadro não ser mercadoria", bom, só se for na galeria da USP.

Além de uma concepção de moda mesquinha em oposição a uma idealização insustentável da arte, seus textos ainda possuem certas pérolas que não são dignas de alguém tão inteligente e bem formado, como: "há de chamar de 'gato' um gato" e a reveladora "um quadro não é uma mercadoria, mesmo que tenha um preço".

Maria Rita Kehl, por seu lado, depois de reclamar que os "Pontos de Cultura criados na gestão Gilberto Gil estão abandonados em muitas regiões do país", o que sem dúvida é lamentável, argumenta que "fundos públicos só deveriam ser utilizados para possibilitar o crescimento de quem não tem acesso ao dinheiro privado". Sem entrar no mérito, basta dizer que ele nos leva à conclusão de que o MinC deve fechar urgentemente suas portas.

De qualquer maneira, não deixa de ser curioso que tal argumento não tenha vindo à luz quando, por exemplo, uma série de filmes com viabilidade comercial e mesmo artistas que vendem muito bem em galerias também aprovaram seus projetos através da Lei Rouanet. Como se pode notar, o debate já não tem nada a ver com moda, e sim com gestão de editais.

Enfim, é bastante provável que a iniciativa do MinC de incluir a moda na Lei Rouanet não tenha começado muito bem, ainda mais com a ministra ignorando as decisões de uma comissão e intervindo pessoalmente para que o projeto de Lourenço fosse aprovado. As cifras e a ideia de "um desfile em Paris" também assustam. No entanto, o debate exige mais do que conceitos fáceis e conclusões apressadas.





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